domingo, 20 de outubro de 2013

Das riquezas que buscamos

Não era de mesmo modo com que discorria da felicidade, que podia encontrá-la contida nos acontecimentos que teciam a vida, dia a dia.
Definia-a, como algo, que comparado à sua realidade, cria ser difícil de alcançar.
E assim, num curto espaço que o reduzia a um idealista engendrando as grandes causas, encontravam-se os esboços daquilo que ele planejava descobrir, como o empecilho que o apartava da completude.
 Mais preocupado em flagrar algum golpe, praga ou maldição cáustica que o colocasse nessa condição de ser inacabado, parecia nem imaginar, que longe de estar enfezado ou preterido diante de todos, era só mais alguém que não compreendia a imperfeição com naturalidade.
 A construção a partir da qual se edificam a essência e a unicidade, se dá gradativamente pelo preenchimento de lacunas, que são proporcionadas pela experiência e os valores numa vida.
  Era totalmente incomum conseguir projetar-se com sucesso, a qualquer noção, ideia ou representação que não ficasse às avessas da realização plena.
A incompletude para ele, era o atestado de fracasso, e esse, pensava ele, ser o preço de ser humano.
Podia  até ser, considerando a ideia de que ninguém pensa igual, porém, não numa proporção tão fatalista, quanto a que insistia em atribuir.
  Essa, era só a forma - mesmo que às vezes oculta no pensamento - que a língua encontrou, para que com toda discrepância, mas também alegria, fosse originado o conceito de amor.
Como dizia-lhe alguém -possívelmente sábio, pra conseguir fornecer uma enunciação tão condizente- o amor era algo que nos fugia de uma significação unívoca e invariável.
Qualquer molde fundamentalista lhe era dispensável pra explicar aquilo, que tão latente na mente ficava. Podia citar uma imensidão de definições, e decidiu organizá-las mentalmente, para que não atrapalhassem na diferenciação para com a sua opinião.
Para freudianos, um sinal de civilidade, o ser bípede, a humanização à partir do Édipo, com a castração que corta o incesto.
Para lacanianos, o "dar aquilo que não se tem, àquele que não é" . Para os gregos, a Philia, a Ágape e o Eros.
E para ele... bem, para ele, forçosamente algo que o punha quase que obrigado à uma auto-reflexão, e à uma busca incessante por alguém certo, alguém que cobrisse as expectativas.
 Pra contribuir, ao mesmo tempo em que o vocábulo amor, conseguia conferir-lhe os palpites - além de respaldar e estruturar o incentivo á busca- conseguia também, dar conta de lhe mostrar  que ele só era único, porque algo lhe faltava.
Só era, só existia, só vivia, porque sem algo a completar, não haveria do que compartilhar.
Então, podia orgulhosamente, depois de ter refletido, dizer que se sentia satisfeito, pois havia uma conclusão na qual tinha chegado.
 E essa era, a que a felicidade não valeu vinténs, hoje não vale dólares, reais ou euros.
Nem mesmo vale o encontrar de alguma imprecação, má sorte, ou empecilho - que conforme acreditava- o impediram de alcançá-la.
Agora, ele achava mais é que, a felicidade vale ela própria, porque ele é testemunha, de que depois de atingida, você não terá mais tempo pra procurar o que lhe apartou dela, e sim para contemplá-la. Principalmente, se achar alguém, que lhe entenda.    

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Seis e meia dúzia

Se estar confuso compreende afirmar cada vez de forma mais contundente, que todas as vontades, quando cogitadas somam em nada, é melhor que não se cogite nenhuma delas.
O arrefecer começa pela intrínseca noção de realidade, que se reafirma a cada tentativa de escape , parecendo colidir com toda a alegria e delicadeza, emprestadas pela fantasia.
O sufoco pela racionalidade é inevitável quando todos os desejos contidos, são justapostos  ao possível , e então se torna cada vez menos quistoso estar de volta ao caos natural, quando ofertada tamanha serenidade.
  Quando a fantasia é quem supre todas as possibilidades que transitam na mente, a ideia da satisfação- já encomendada- é a próxima entrega.
  A fantasia encarrega-se  de toda energia em favor da criação, para que o contato com o não palpável pareça mais verdade que o material.
 Faz de miséria, o banquete que parecia, ter a  certeza de que ao escolher tal caminho, erraria, simplesmente por ser a ausência de qualquer compromisso, definição de correto, ou factualidade. 
Ludibriando-o, ou não, ela nocauteia qualquer que seja o impedimento à suavidade, e à liberdade que no real, digladiam com a moral.
Mas não cessa de aninhar às máscaras, a culpa carregada pela infinitude real do caos, a brutalidade do mundo, e o choque produto da desilusão. 
Ao despertar, lho faz deparar-se com toda incumbência da qual não foi liberto, e então ele enxerga que é realmente uma pena, a palavra erro se explicar a partir da mediação feita entre o imaginário, e o já esperado. Lembra-se de como fica difícil se alimentar do que parecia ser melhor, quando se encontra acordado. 
A construção da fantasia, já está bem confeitada daquilo que o amor, e todo o resto do que é sublime, contém, carregando da maneira mais engenhosa, o poder de ter  lhe servido de alguns segundos de tranquilidade .
Porém , ele entristece, ao se lembrar que tem a tarefa de reduzir tudo aquilo em que realmente acredita, a fragmentos que possam  juntos, formar algo mais próximo daquilo que dita a realidade comum, e o socialmente aceitável.
Ele ri de tudo aquilo, e enxerga como é grotesco o trocar um seis por meia dúzia, já que ao reduzir seus desejos para serem aceitos, encontra também uma fantasia. Mas dessa vez, uma fantasia do mundo e das pessoas que o habitam. Uma fantasia constante, de mascarar a vontade própria, pra não serem ignoradas.