sexta-feira, 25 de abril de 2014

Amálgama dos intempéries emocionais

O que eu entendo por intempestivo, descobri há dias não só caracterizar a forma com que as coisas vem acontecendo.
     Descobri ser também o adjetivo que empresta ao meu perfil de impaciente, o mais adequado tom de gravidade.
      Como se no cerne da palavra-e de todos os seus sinônimos mais breves: imediato, desacomodado ou súbito- estivesse contido o vestígio, de que cada dia menos acostumada eu fico.
       E o que inquieta, não é só o sentimento de poda do pensamento, ou de bloqueio da vazão, como também a sensação que vem dele acompanhada.
     Aquela de que o princípio de todas essas outras sensações, vai além da instabilidade.
Sinto-me como se a cada vez mais, possa me assemelhar a um complexo de partículas, que pra dar consistência á uma mesma matéria, precisa ser organizado de maneira que cada fração continue o que falta na outra.
    Mas e quando é que será o fim do ciclo, se nenhuma delas é capaz de representar o desfecho, pra que se dê o todo?
     E talvez, a vida não muito longe disso, possa ser justamente compatível a essa ideia de algo fracionado.
Trazendo cada momento que contém uma etapa da nossa linha do tempo, essas frações como parte do todo, têm de ser as experiências vividas,  em cada uma delas as emoções experimentadas como partículas, e assim também representarmos matéria.
       A grande diferença está em não termos a opção de desenvolvermo-nos à prova de algo, que esteja anterior à experiência.
    Isto é, nem que quiséssemos, poderíamos estar totalmente protegidos de algo que, anterior à experiência, remeta a perigo.
Perigo para a existência, ou se preferir continuar com o esquema, a estrutura, a matéria.
O abalo nunca está tão longe, que não possa atingir a matéria pelo menos na sua fração mais exposta e delicada, quando a matéria formos nós.
    Intempestiva começa a ser a minha descoberta de que a imperfeição me é própria enquanto humana, e que a consciência de mim e o errar juntos, resultarão no amálgama mais danoso à minha matéria: A culpa.
Dos intempéries emocionais, surge a necessidade de refletir, e do refletir é gerado o esquema que explica grande parte.

Enquanto houver a ação que assume e carrega a humanidade, uma coisa levará à outra, em termos de reação, já que pra ser humano, se tem consciência de si, se erra e portanto, se culpa.
O amor, o medo, a raiva e a culpa serão alguns dos formadores dessa ordem, e são intempéries emocionais que entre si, mediam a relação egóica.

Eles, em cada momento da vida poderão mostrar que por mais consistente que seja a tua matéria, se algo te falta, é isso o que vai te reger ao desejo.
   E no desejo de ser desejado, é que mais humano ainda você se descobre. Às vezes conformado, às vezes impaciente, por intempestiva e culposa, ser a arte de quase sempre desejar aquilo, aquele ou aquela que  mais destrói a tua matéria.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Comunicação: a surpresa que circunda o universo, da doença e da saúde.



Se não fosse do silêncio que se originassem os pensamentos, o poder de reflexão- ou pelo menos boa parte dele- diante de toda e qualquer situação de alerta ,que resgate o estado de dúvida, estaria arruinado o grande presente que a espécie nos deu:  A sofisticação do pensamento, que gera o discernir.
O poder crítico que enlaça cada ideia diante de um impasse, é não só um contraste gerado pela imaginação e palavras, que delineia a criatividade, como também a carta de um jogo muito tipicamente humano: a linguagem.
A inteligência racional, aquela que vai além das percepções imediatas, é algo de que dotamos, e que propõe-nos capacidades que animais não têm.
Contudo, registros científicos e dentre as  interpretações que podemos tomar deles  a nível de vida,  indicam que essas capacidades tampouco nos colocam à frente deles- por não serem aproveitadas de forma certa-  como também nos fazem repensar sobre o quanto eles é que nos têm a ensinar, e não o contrário.
Mas, há algo ainda mais subjacente a ser observado. Isto é, por mais que os estudos evolutivos tenham  em sua excelência, conseguido  comprovar  semelhanças anatômicas e genéticas nossas, com animais “parentes”, nosso ancestral comum, como chamamos dada espécie de macaco, há algo que creio estar tão encoberto , que ninguém enquanto humano e acometido pelas falhas do diálogo, vai conseguir comprovar: a importância da diferença dessas duas espécies.
Tenha a plena certeza de que lendo este texto, você não está sendo induzido a achar, que pra ser bom, deveria ter nascido animal, ou ainda a acreditar que deve  abrir mão de tudo de uma hora pra outra, e viver numa caverna a peixe e água, adotando comportamentos animais pra viver em simplicidade.
O que é uma verdade incontestável, e que- infelizmente- pouca gente sabe, é que há como viver na simplicidade, mesmo sendo racional e dotando de uma língua. 
O que viemos discutir, trata-se da grande virtude que vem a ser a simplicidade, sem fugir do foco: a doença que enfraquece a nossa forma mais comum de comunicação.
O mais interessante e intrigante ao mesmo tempo, é saber, que se os animais pudessem dispor de uma comunicação  com cerne nas palavras, tendo pra se prover de experiência tudo o que nós temos, muito provavelmente, eles o fariam melhor do que nós. E sabe por que?  
Pra edificar esse argumento, preciso novamente me pautar dos estudos evolutivos.
Se a relação entre os animais se baseasse em respeito, isso não só  seria motivo pra pôr em xeque a vida das espécies, como boicotaria com um tombo toda a cadeia alimentar.
Um gato, tem comportamento de matar pássaros traduzido tanto em fome como em sobrevivência, já que nem todos os gatos  nascem com direito a beber e comer na hora certa. Isto é, se os gatos não fossem impulsionados a matar, um gato selvagem teria de morrer de fome, e é em função disso, que a espécie conferiu esse instinto a todos os gatos em comum.
Isso exemplifica o porque de termos a oportunidade de viver em respeito ao espaço do outro, e eles não.
Eu bem sei, que também temos impresso á nossa espécie um sistema de seleção natural, e que mesmo não matando pra reproduzir , damos conta de eliminar os concorrentes de outras formas, que se equivalem a matar no mundo animal, mas a minha  ideia ainda não chegou ao fim. Em meio a condição de matar para sobreviver,perpetuar, que pra alguns seres humanos “confere aos animais a selvageria que nós não temos”- como se isso não fosse instintivo- os animais continuam a vencer  em matéria de demonstração de sabedoria, tendo inúmeras maneiras de nos mostrar, que o pingo de comunicação da qual dispõem, é totalmente aproveitado.
Como no caso dos golfinhos, com a estratégia da barreira de machos para proteger uma fêmea grávida de predadores, pondo em grupo suas próprias vidas em risco, em prol da de um bebê que nem é seu.  Isto prova, que os animais, na sua forma de comunicação, podem não nos ultrapassar em termos de veiculação da mensagem, mas que podem com certeza nos ultrapassar no que querem dizer.
E o que é ainda melhor: aproveitam esse pingo de comunicação com inteligência, amor, e muitas vezes- como no caso- em sacrifício. Mas o foco agora, vai ser mostrar como, e porquê poderíamos nos nivelar a algo assim.
Não é preciso ser muito inteligente, pra saber que qualquer ser humano que não tentasse o tempo todo ser bom em tudo, ou ter razão, seria ainda mais sábio e melhor. E nem que quando se discute algo, a melhor maneira de superar as dissidências e chegar a um caminho comum, é estabelecendo a pauta que pede a condição humana.
(Oh! Aquela glorificada por inteligência racional... mas que nem sempre faz jus a ela). Que pauta é essa? Muitos não sabem, por ser essa justamente a deficiência que acomete a comunicação: a falta de sabedoria e maturidade pra saber, que o ser humano só poderia se gabar de dispor da língua, se em todos os impasses, ele a usasse pro que ela realmente serve: o diálogo que enobrece a convivência.
A doença está, em não saber, que há uma linha traçada de causa a efeito, e que a causa de um vai sempre acabar por ferir o outro se ambos não tiverem consciência, do direito de falar e dever de escutar.
Essa seria a única razão, pela qual poderíamos nos glorificar de falar, e achar que realmente temos algo a mais do que as outras espécies. Mas ainda assim, não o fazemos com perfeição. Muitos, não chegam nem perto.