quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A guerra egóica

Loquaz ou interpretador, sonhador, erogenista, pessimista e indiferente, era o que podia ser, e a forma como podia reagir a todos os eventos que somavam-se para dar a ele uma vida. Momentos que faziam-no de instante, estanque às possibilidades, mas sem acreditar em destino.
Tudo o que lho rodeia, demanda de resposta, nem sempre imediata- o que pode-lhe conferir um tempo pra pensar-. A análise do interpretador.
   Mas também, é com alegria e curiosidade de descobrir todos os artifícios dos quais as coisas se valem para existir- ou para acontecer- que ele se vê instigado, e longe de estar totalmente prostrado, ou renegado à novidades. O entusiasmo do sonhador.
E todo o cabedal de palavras, capaz de oferecer a ele um significado àquilo que era observado, vivido e imaginado, a imparcialidade do loquaz.
Tem no  loquaz e o interpretador, como as facetas que mais transitam no cerne daquela sua existência, a qual preferiu chamar de espetáculo.
   Espetáculo porque o momento que nos contém, em universalidade e em sociedade, depende de plateia e de palco.
Um palco é a individuação, o começo que lho proporciona contato com o próprio dispor de habilidades, e que faz da plateia a nobre causa, pra ele alguma coisa querer interpretar.
 Não tão nobre,quanto poderia ser, se não fosse tão taxativa, mas ainda assim peça importante para que as performances confiram ao espectro, algum dos sentidos possíveis.
Desde o começo da vida, o nascer, o palco vem como ego, e  é estabelecer o primeiro contato dele consigo mesmo- da vida extrauterina- a independência, o vir a existir e o estar apartado, quando enfim conseguir se diferenciar das figuras que a ele serviram de razão pra estar ali. As figuras, de pai, e de mãe.
Tinha pai, tinha mãe e era filho, posto no mundo com algum propósito, pra algo fazer e honrar cada momento que a plateia lhe concedesse.
 Dessa forma, ele percebia ao longo dos dias, como o egoísmo se fazia presente e podia ser norteador das suas ações, estabelecendo guerra - mental- com a concepção mundana de o dever altruísta digladiar com ele e vencer.
Mas o mais interessante, era que o egoísmo em questão, não era aquele de tirar algo de alguém pra manter exclusivamente consigo, ou o de manter consigo  algo que já é seu sem precisar dividir.
  Era o amor próprio, a liberdade, a honra dessa vez não à plateia, mas à identidade, e às vontades, mesmo consciente das limitações  que o existir e o estar cravavam.
 Era assim que o palco começava- mesmo que inanimado-  a manifestar valor e significado na sua vida. A relação narcísica de amor, era tão importante quanto o altruísmo.
E se ele vivo estava, loquaz , interpretador e sonhador , percebia depender do amor à si e a sua companhia, pra assim dotado de auto controle, ter suficiência para transformar os eventos e tudo aquilo que o rodeava a seu favor.
A concepção de homem, que familiarizava-o a um chão e a uma natureza, o tornava passível de auto conhecimento e de estratégias que o auxiliariam nessas transformações.
Essas estratégias, nada mais são , do que a forma de conhecer os artifícios de que as coisas se valem- ou o antes dito entusiasmo do sonhador, expectando pelo que há de vir, e projetista do próprio futuro por meio do domínio de ideias.
E ainda , amante desse prazer que é dispor de todas as facetas e da liberdade de experimentar as coisas- mesmo cabendo à palpites dos outros- o erogenista, amplificador das experiências, regalias e tesouros. Admirador do prazer.
Mas, contestando o primeiro pensamento, aquele do começo, que pautava o existir nesses estados, e no da indiferença ou pessimismo, descobriu que a última faceta que precisava assumir era essa.
Controlando a si mesmo e não aos outros, mas ainda passivo ao espetáculo e à plateia - pois essa ordem impositora  ele não tinha poder pra alterar- ele era enfim protagonista da própria peça, e sabia que não podia estar indiferente, pois ao contrário da maioria, mesmo estando exposto à palpites, ele tinha a si mesmo pra surpreender.
 Não há governo mental sem o mínimo de egoísmo, disponha-se de auto controle e de amor à própria existência, pra estar feliz e pra não deixar que a plateia norteie suas ações, diz ele hoje.